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Botafogo

No início dos anos 70, o espaço exíguo das três sedes da Escola Corcovado na Urca dificultava a criação de novas turmas e obrigava muitos alunos a migrar para outras instituições conforme avançavam na vida escolar.

O modelo de expansão adotado até então, com a abertura de novas sedes próximas para acomodar os alunos, estava esgotado. Alugar uma quarta casa na Urca forçaria os professores a encarar maratonas ainda maiores entre os diferentes endereços. Chegara a hora de procurar um espaço maior.

Por sorte, havia alternativas. A transferência da capital federal para Brasília, em 1960, continuava a forçar a mudança de uma série de órgãos públicos e diplomáticos do Rio para o Planalto Central, liberando imóveis na cidade. Com a ida iminente do embaixador alemão para Brasília, chegou-se a cogitar transferir a escola para sua residência —um palacete em Santa Teresa. Mas, pouco depois, o governo da Alemanha acabou se decidindo pela compra da mansão de outro embaixador, o americano, na rua São Clemente, 388, no bairro de Botafogo.

A propriedade tinha um amplo jardim e vista privilegiada para o Cristo Redentor. Antes de ir para as mãos dos americanos, no fim da década de 30, tinha pertencido à família do nobre britânico Sir Henry Lynch, um apaixonado por botânica.

Sua beleza arquitetônica e paisagística se destacava tanto que não foi surpresa que o governo do Estado da Guanabara também se interessasse por sua compra. Durante meses, jornais locais noticiaram idas e vindas nas negociações, ora dizendo que a residência iria para os alemães, ora que iria para o Estado. A disputa chegou ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas, no último dia de 1973, a escola pôde finalmente iniciar a mudança para o novo espaço. A transferência do título de propriedade, no entanto, só ocorreria anos mais tarde, em 1982.

O cronograma apertado fez com sobrasse pouco tempo para as obras de adaptação. Quando o ano letivo de 1974 começou, as salas de aula ainda contavam com quartos de vestir e luxuosos banheiros. “As crianças pulavam nas banheiras e corriam pelos corredores, fazendo aviãozinho”, lembra a ex-diretora Margret Möller.

Com o tempo, quase todos os ambientes passaram por reformas para melhor atender as necessidades dos alunos. A sala de jantar do embaixador, antes palco de encontros refinados, foi primeiro transformada em sala de música e, depois, em sala de provas. “Vinham vários embaixadores e gente da sociedade”, lembra o português Manuel Pereira Fernandes, mordomo da antiga residência que acabou sendo contratado pela escola e nela permaneceu até 1999.

Nesse período, ele pôde testemunhar muitas outras mudanças. O amplo jardim passou a abrigar uma série de eventos, com participação maciça da comunidade escolar. As festas juninas tornaram-se uma tradição até hoje mantida. Além disso, o terreno ganhou uma quadra para a prática de esportes e dois prédios novos, com salas de aula, laboratórios e um ginásio coberto. Em 2004, foi a vez de uma garagem subterrânea.

No campo educacional também houve transformações importantes. Com mais espaço, em 1975 a escola pôde finalmente introduzir uma turma de segundo grau. Em 1977, seus dez primeiros formandos foram aprovados no vestibular. E, em 1980, foi realizada pela primeira vez a prova do Abitur.

Todos esses passos garantiram reconhecimento. Hoje, o casarão da São Clemente virou sinônimo de educação de qualidade —uma escola alemã de excelência, aos pés do Corcovado.

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